O que é uma crença?
Segundo dicionário: “Pensamento que se acredita ser verdadeiro ou seguro; certeza, confiança, segurança”.
Mas, o que a crença tem a ver com nossa prática clínica?
Alguns estudos sugerem a importância da investigação de atitudes e crenças dos atletas 1–3, e treinadores 4, na prevenção e no manejo das lesões, contudo apenas alguns estudos têm investigado a potencial relação entre fatores cognitivos ou comportamentais e lesões no esporte.
Nesse tocante, o estudo publicado pelo Bruno Saragiotto et al.5, investigou o que os corredores pensam sobre os fatores de risco relacionados a lesões na corrida. Eles descreveram “não alongar”, “uso de tênis errado”, como principais citações, seguidas de “excesso de treinamento”, “não aquecer”, “falta de força” e “não respeitar os limites individuais”. O conhecimento dos fatores identificados neste estudo pode contribuir para o desenvolvimento de melhores estratégias educacionais para evitar lesões por corrida, nesta população investigada, pois algumas das crenças dos corredores participantes não são suportadas pela literatura de pesquisa.
No ano passado Fokkema et Al.6, publicaram a opinião dos corredores recreacionais, sobre um programa de prevenção, suas barreiras e facilitadores na implementação. Encontraram que os que se machucaram, achavam com maior frequência que era importante um programa de prevenção, que 80% já havia praticado alguma medida preventiva como modificação do calendário de treinos, aquecimento e desaquecimento. A principal barreira citada foi, NÃO SABER O QUE FAZER, E NUNCA TIVE LESÕES. Já o maior facilitador foi ter TIDO A EXPERIÊNCIA DE LESÃO. Quanto a melhor forma de receber conteúdo, mulheres preferem a orientação de profissionais diretamente ou de lojas de corrida, e homens por email ou sites. Podemos perceber com este estudo como a DESINFORMAÇÃO, é uma enorme barreira e como conhecer o seu público, preferências, hábitos, crenças, mais uma vez COMPORTAMENTO, pode determinar engajamento, aderência e enfim efetividade.
Um outro ponto de extrema relevância venha a ser não só o ponto de vista do paciente, mas sim, quais são as nossas crenças (clínicos, profissionais de saúde).
Há fortes evidências de que os clínicos geralmente mantêm crenças errôneas, inúteis e prejudiciais sobre a dor musculoesquelética 7–9. Assim precisamos refletir com que tipo de informação estamos preenchendo esse vazio no conhecimento do nosso atleta ou praticante de atividade física. Nossas crenças podem influenciar fortemente os conselhos aos pacientes, alimentando potencialmente respostas errôneas de enfrentamento e manejo de fatores de risco.
Desta forma, levantamos as seguintes reflexões e seus desdobarmentos:
QUAIS SÃO AS MINHAS CRENÇAS ?
TENHO ME PREOCUPADO EM INVESTIGAR EM QUE MEU PACIENTE ACREDITA?
COMO DESCONSTRUIR TANTO AS MINHAS, MAS PRINCIPALMENTE AS CRENÇAS DO MEU PÚBLICO?
Fica a sugestão do paper do J. Caneiro, 202010 que traz uma forma muito didática sobre identificação e ferramentas de manejo desta variável na prática clínica!
Deixem seus comentários, para fomentarmos muita discussão sobre esse tema!
COMISSÃO CCEAT
1. McGlashan AJ, Finch CF. The extent to which behavioural and social sciences theories and models are used in sport injury prevention research. Sport Med. 2010;40(10):841–58.
2. Verhagen EALM, Van Stralen MM, Van Mechelen W. Behaviour, the key factor for sports injury prevention. Sport Med. 2010;40(11):899–906.
3. Verhagen EALM, Van Mechelen W. Editorial: Sport for all, injury prevention for all. Br J Sports Med. 2010;44(3):158.
4. Hanson D, Allegrante JP, Sleet DA, Finch CF. Research alone is not suf fi cient to prevent sports injury. Br J Sport Med. 2014;48(8):5–8.
5. Saragiotto BT, Yamato TP, Lopes AD. What Do Recreational Runners Think About Risk Factors for Running Injuries? A Descriptive Study of Their Beliefs and Opinions. J Orthop Sport Phys Ther [Internet]. 2014;44(10):733–8. Available from: http://www.jospt.org/doi/abs/10.2519/jospt.2014.5710
6. Fokkema T, de Vos R-J, Bierma-zeinstra SMA, van Middelkoop M. Opinions, Barriers, and Facilitators of Injury Prevention in Recreational Runners. J Orthop Sport Phys Ther. 2019;49(10):736–42.
7. Bishop A, Foster NE, Thomas E, Hay EM. How does the self-reported clinical management of patients with low back pain relate to the attitudes and beliefs of health care practitioners? A survey of UK general practitioners and physiotherapists. Pain. 2008;135(1–2):187–95.
8. Ben Darlow, Dowell A, Baxter GD, Mathieson F, Perry M, Dean S. The Enduring Impact of What Clinicians Say to People With Low Back Pain. annais Fam Med. 2013;11(6):527–34.
9. Nolan D, O’Sullivan K, Stephenson J, O’Sullivan P, Lucock M. What do physiotherapists and manual handling advisors consider the safest lifting posture, and do back beliefs influence their choice? Musculoskelet Sci Pract [Internet]. 2018;33(July 2017):35–40. Available from: https://doi.org/10.1016/j.msksp.2017.10.010
10. Caneiro JP, Bunzli S, Sullivan PO. Beliefs about the body and pain?: the critical role in musculoskeletal pain management. Brazilian J Phys Ther [Internet]. 2020; Available from: https://doi.org/10.1016/j.bjpt.2020.06.003