A fisioterapia esportiva tem relação direta com as bandagens terapêuticas, e não poderia ser diferente, afinal as bandagens estão inseridas dentro do contexto esportivo a centenas, e por que não, milhares de anos. Com relatos de utilização desde o Egito antigo, passando pela Grécia e até mesmo o exército Romano, seu uso sempre teve muito atrelado aos guerreiros e às lutas. Com o passar do tempo e com a evolução dos diferentes tipos de cola surgem, no século XIX, as primeiras bandagens, semelhantes as que temos atualmente, baseada em tecido e cola.
Na primeira metade do século XX, com a criação de materiais de melhor qualidade, a sua utilização no contexto esportivo ganha força dentro alguns esportes como: Vôlei, Basquete e artes marciais, onde eram utilizadas as athletic tape ou também conhecida como White tape. Na segunda metade do século XX, surgem novos materiais e técnicas que iriam dar um novo rumo para as bandagens terapêuticas. Entre as décadas de 70 e 80, a Jenny McConnell cria a técnica de McConnell Taping (Rígida) e o japonês Kenso Kase desenvolve a técnica da Kinesiotaping (bandagem elástica).
Já na década de 90 e início do século XXI foram criadas as técnicas de Funcional Fascial Taping, desenvolvida pelo Fisioterapeuta Ron Alexander e a técnica de Dynamic Taping (Hiper elástica) criada pelo fisioterapeuta Ryan Kendric.
O desenvolvimento dos diferentes materiais e das diferentes técnicas trazem consigo uma necessidade real de transformar o fisioterapeuta esportivo não apenas em um aplicador de bandagens, mas sim, em um agente pensador e crítico, onde ele tenha a capacidade de desenvolver um raciocínio clínico, saiba avaliar a real necessidade de empregar determinada técnica e traçar adequadamente uma abordagem assertiva perante a utilização das bandagens terapêuticas. Sempre que aplicamos qualquer tipo de bandagem em nossos atletas temos respostas mecânicas e sensoriais presentes em proporção distinta conforme o tipo de bandagem, material do qual ela é feita, além da técnica aplicada, contudo cabe salientar que sempre teremos ambas as respostas sensoriais e mecânicas.
Uma importante variável que devemos considerar quando vamos empregar esta técnica é a qualidade do material utilizado. Atualmente existem diversos materiais e marcas no mercado brasileiro, o que traz como ponto positivo a concorrência e a diminuição dos valores, entretanto o grande número de marcas e fornecedores também faz com que tenhamos uma grande quantidade de materiais de baixa qualidade.
Precisamos lembrar que, apesar de supostamente semelhantes, existem diversas diferenças entre os produtos oferecidos, o que deixa claro que nem toda a bandagem elástica, por exemplo, é igual. Escolher o material apenas pelo preço pode ser arriscado e por vezes frustrante, podendo comprometer o efeito e o resultado desejados. Mas quais são os cuidados que devemos ter na hora da compra? Qualidade do tecido utilizado, optar por uma cola de qualidade, que seja hipoalergênica e livre de látex, além de preferir um material que seja de fácil manuseio e permita um trabalho dinâmico. Aliar o conhecimento técnico a produtos de qualidade comprovada é a forma correta e segura para atingirmos os objetivos propostos com as bandagens terapêuticas.
Podemos utilizar as bandagens em um amplo espectro da fisioterapia esportiva. Elas podem ser utilizadas no First aid, no Field of Play(FOP), como um recurso avaliativo, durante diferentes momentos da reabilitação e com o objetivo preventivo, seja de maneira primária e/ou secundária.
Tendo este entendimento, precisamos primeiramente delimitar importantes marcadores que irão nortear a nossa conduta, existe uma classificação de bandagens que leva em conta suas propriedades mecânicas: Rígidas, semi-rígidas, elásticas, hiper-elásticas e enfaixamento. Esta diferenciação já nos traz informações importantes quanto ao que podemos esperar de cada técnica. Bandagens com maiores propriedades plásticas (Bandagem rígida) devem ser priorizadas quando o objetivo é de proporcionar uma maior estabilidade mecânica, já bandagens com maiores propriedades elásticas (Bandagem elástica) podem ser utilizadas quando o objetivo é atuar no componente neurossensorial e proprioceptivo. Além disso, podemos utilizar as bandagens elásticas com objetivos linfáticos, fluídicos e analgésicos.
Outra interessante opção terapêutica são as bandagens hiperelásticas, as quais apresentam um efeito mecânico elástico de retirada da sobrecarga excêntrica dos tecidos, consequentemente diminuindo o estresse das forças locais. Não podemos esquecer do enfaixamento, no qual é possível utilizar ataduras simples de tecido, bandagens auto-aderentes coesivas e as bandagens de tecido elásticas com cola (Light EAB – Feita de Spandex de algodão e cola), com as quais podemos gerar estímulos circulatórios compressivos, estabilidade articular e proteção de curativos e estruturas nobres.
Por fim, toda bandagem deve ser utilizada seguindo um critério claro, com objetivos bem delimitados e dentro de um plano terapêutico baseado na reabilitação funcional do atleta, onde as bandagens assumam um papel de coadjuvante e sejam auxiliares ao fisioterapeuta, sendo utilizadas, se necessário, no momento certo e de maneira adequada.
Tarciso Silva dos Santos
Fisioterapeuta
CREFITO-5 195.796-F
Sócio Especialista SONAFE